História

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Segundo Irineu Joffily a história de Fagundes começa antes da história de Campina Grande. Esse historiador afirma que quando Teodósio de Oliveira Ledo, aldeou na grande campina, e os padres da Companhia de Jesus já se haviam retirado da Serra do Bodopitá lugar onde se localiza a cidade de Fagundes. A Companhia de Jesus tentara em vão catequizar os índios Cariris que ali viviam e se alimentavam da caça e ensiná-los a prática da agricultura, mas sem muito sucesso.

Com o abandono da aldeia pelos jesuítas, Teodósio requereu ao governo da Capitania, em 1702, terras devolutas na parte mais fértil da Serra do Bodopitá, onde hoje se localiza a cidade.

Em seu requerimento ao governo da Capitania da Parahyba, Teodósio de Oliveira Ledo alegava que:

“tinha descoberto com grande trabalho e despesa de sua fazenda na serra chamada Bodopitá um brejo de canas bravas e matas que nela há um olho d’água… e nesses brejos e matas que nela há lhe parecem capazes de produzir roças e outros legumes necessários para a conservação com mais cômodo, não só da guerra contra os Tapuias, mas também dos moradores do dito sertão, que mais facilidade as poderão povoar e assistir nelas; por isso requeria a mercê de quatro léguas de comprimento e uma de largura no dito brejo e olho d’água das canas bravas na serra de Bodopitá, tomada de norte a sul” (grifos da autor). JOFFILY, Irinêo. Sinopse das Sesmarias, (p. 14)

A sesmarias foi concedida a Teodósio de Oliveira Ledo, com seu comprimento reduzido para três léguas, segundo a Carta Régia de 7 de dezembro de 1698; a redução foi para evitar o abuso das doações extensas sem aproveitamento pelos sesmeiros.

Conforme pesquisas o nome Fagundes, provém de origem portuguesa, a quem conteste essa versão, mas o certo é que esse nome começa a aparecer antes de 1740, pois nesse ano, em requerimento de sesmarias, fez a ele referência o peticionário. Daí por diante vem sempre com a designação de Brejo de Fagundes, que antes se chamava Brejo de Canas Bravas.

Na segunda metade do século XIX, Fagundes esteve em evidência na vida da Paraíba e no Brasil, sendo foco de dois movimentos populares considerados subversivos, ambos em revolta a medidas decretadas pelo Governo Imperial do Brasil: “Ronco da Abelha” (1852) e “Quebra – Quilos” (1874). E nos anos 80, do século XX, houve outro levante popular que ficou conhecido como Revolta do “Quebra-Canos”. Fonte: DANTAS, João Andrei, Fagundes: dos levantes populares a pedra de Santo Antônio, 2004, UFCG.

Ronco da Abelha (1852)

A partir da segunda metade do século XIX, as zonas de cultura algodoeira, no brejo e agreste, passaram por grandes transformações.

“Em primeiro lugar, inserido no mercado internacional capitalista, o algodão passou a ser cultivado através da grande propriedade que, no sertão, admitia escravos. Isso significava prejuízos para parceiros, meeiros, moradores, pequenos sitiantes, arrendatários e foreiros que começaram a perder o acesso a terra, monopolizada pelos latifundiários.” OTAVIO, José. História da Paraíba, 2000 (p. 119)

Acompanhando essas mudanças nas relações de medição no brejo e agreste, vinham medidas centralizadoras promovidas pelo Império Brasileiro. Foram editados alguns decretos, que colocaram, de início, a população pobre constituída por trabalhadores rurais, que desempenhavam atividades de parceiro, ou meeiro. Num censo geral que tinha como objetivo estabelecer o registro civil dessa população. Esses decretos provocaram nas massas populares uma sensação que os levavam para a escravidão do homem de cor, daí chamá-lo “lei do cativeiro”, que se tornou numa resistência popular aos decretos.

Na Província da Parahyba, a resistência “assumiu a forma de tumultos em que roceiros armados de pedras, bacamartes e clavinotes, invadiram vilas e cidades como Ingá, Campina Grande, Alagoa Nova, Guarabira, Areia e Fagundes, dirigindo-se, preferencialmente, aos cartórios”.[2] (…) Estava iniciado o movimento popular denominado “Ronco da Abelha” que ocorreu em 1852, no governo de Sá e Albuquerque. Os revoltosos reivindicavam o fim do decreto Imperial que retirava da Igreja o direito de emitir registros e óbitos, passando então a cargo dos Cartórios que eram órgãos do Governo Imperial. Para complicar mais as coisas, os sacerdotes da Igreja Católica, nada satisfeita com a perda de parte de sua autoridade, começaram a pregar contra os registros civis, que por eles eram chamados “papel de satanás”, provocando, ainda mais, a revolta da população. Fonte: DANTAS, João Andrei, Fagundes: dos levantes populares a pedra de Santo Antônio, 2004, UFCG.

Quebra - Quilos (1874)

O “Quebra-Quilos” foi um movimento de maiores proporções que o “Ronco da Abelha”, chegando a necessitar da interferência do Governo Imperial; o “Quebra-Quilos” que, partindo dos brejos e chapadas da Borborema, se alastrou pelos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, no período compreendido entre outubro e dezembro de 1874.

O que desencadeou esse movimento foi à adesão pelo Governo Imperial ao Sistema Métrico em 1862. Acontece que, em todo o país, permanecia em uso os sistemas tradicionais de medidas, tais como léguas, cuia, quarta, onça. Em 1874 a tentativa de adotar os padrões do sistema métrico provocara uma revolta popular violenta na Paraíba. Essa revolta ficou conhecida como “Quebra-Quilos”. Para as autoridades da época, o movimento teria sido insuflado pelo clero, em briga com o governo. Vejamos.

Em 1872, o Decreto Imperial de 18 de setembro estabeleceu como padrão de medidas o sistema métrico decimal francês. Dois anos mais tarde, em novembro de 1874, a execução local do que impunha esse decreto foi o estopim que deflagrou a insurreição dos “Quebra-Quilos”. A revolta, liderada por João Vieira, conhecido como “João Carga d’Água”, irrompeu na serra de Bodopitá. Descendo a serra, os insurretos invadiram a Vila de Fagundes num dia de feira, quebraram as “medidas” (caixas de madeira de um e cinco litros de capacidade), fornecidas pelo poder público municipal e usadas pelos feirantes, e atiraram os pesos dentro do Açude Velho.

“Carga de rapadura atirada por feirantes contra cobrador de impostos, na feira de Fagundes, foi a centelha a partir da qual a rebelião espalhou-se por várias localidades como Pocinhos, Ingá, Cabaceiras, Campina Grande, Areia, Arara, Alagoa Nova, Alagoa Grande, Bananeiras, Araruna, Guarabira, Pilar, Salgadoe Mamanguape.” (…) OTAVIO, José. História da Paraíba, 2000 (p. 122)

A revolta ganhou tal dimensão que se estendeu não apenas para outros municípios do Brejo e do Cariri, mas transpôs a província, estendendo-se para Pernambuco e até Alagoas. Ademais, a insurreição ganha novos matizes quando aos revoltosos juntaram-se vários indivíduos armados, liderados por Manoel de Barros Souza, conhecido como Neco de Barros, e Alexandre de Viveiros. Juntos, invadiram e dominaram a cadeia, libertando os presidiários, entre os quais o próprio pai do primeiro, e incendiaram cartórios e o arquivo municipal. Era propósito de Alexandre de Viveiros anular os autos de processo de homicídio que pesava sobre ele.

O governo imperialista brasileiro reagiu com grande brutalidade contra os revoltosos, chegou a deslocar canhões para a tropa de linha chefiada pelo capitão Longuinho, saqueando engenhos e fazendas, prendeu e espancou à vontade. O capitão Longuinho tinha uma particularidade, ele utilizava contra os suspeitos do movimento um instrumento de tortura denominado colete de couro, que era molhado e costurado no tórax do pobre indivíduo, que quando estava seco, apertava e matava a vítima por asfixia ou expectoração sanguínea.

A revolta dos “Quebra-Quilos” durou ainda uns poucos meses, quando foi sufocada pelas forças policiais. O líder João Carga d’Água foragiu-se, mas Alexandre Viveiros foi preso. Em represália, as forças da milícia imperial desferiram sobre a população, no início de 1875, a mais brutal repressão de que se tem notícia. Fonte: DANTAS, João Andrei, Fagundes: dos levantes populares a pedra de Santo Antônio, 2004, UFCG.

Quebra - Canos (1983)

Em meados do século XX, os distritos de Fagundes e Galante passaram por problemas em comum: não tinham abastecimento e sofria com a seca. Foi então que o prefeito campinense Plínio Lemos resolveu construir uma barragem que a princípio seria para abastecer o distrito de Galante. O local escolhido foi a Serra do Bodopitá, no distrito de Fagundes. A escolha da Serra como lugar para essa construção se deveu, ao entendimento de que sua localização geográfica facilitaria a drenagem de água para o distrito de Galante. A barragem foi então construída, mas, o distrito de Galante não foi saneado, porque a população de Fagundes não aceitava, ver Galante saneada e Fagundes não.

Para complicar as coisas, no ano de 1961, sob o decreto de Lei nº 2.661, de 22 de dezembro desse mesmo ano, foi criado o município de Fagundes. Com essa nova divisão territorial, o novo município ganhou a barragem recém construída ficando Galante, sem a barragem para seu abastecimento. Acontece que, a barragem não tinha utilização para nenhum dos municípios. Foi apenas na gestão do sexto prefeito de Fagundes José Ferreira Dantas Irmão (Zuca Ferreira), que governou o município de 1976 a 1982 que, a barragem passou a ter utilidade, e finalmente serviu para o abastecimento desse município, ficando Galante sem o seu abastecimento.

Oficialmente, o abastecimento d’água de Fagundes foi inaugurado no dia 4 de novembro de 1978, com uma grande festa em praça pública que contou com a presença de políticos ilustres da Paraíba, tais como o deputado estadual Antonio Gomes; o diretor da CAGEPA de Campina Grande, engenheiro Cristóvão Vicktor; o empresário Raimundo Lira; o ex-governador, Professor Ivan Bichara Sobreira e o governador eleito, Tarcisio de Miranda Burity. As obras tinham recebido um investimento da ordem de dois milhões de cruzeiro. A festa contou com a presença de cerca de cinco mil pessoas, que assistiram ao “show” do Conjunto de Chicó e do cantor João Gonçalves.

“Depois de inaugurado oficialmente o sistema de abastecimento d’água de Fagundes, em ato público presidido pelo prefeito Zuca Ferreira, a praça da Rua principal da cidade foi palco de uma festa popular nunca antes vista naquele município, tendo em vista a espontaneidade com que os populares procuraram usufruir pela primeira vez da torneira instalada naquele logradouro. Enquanto a água jorrava, as crianças banhavam-se os adultos aplaudiam a iniciativa da administração municipal que redundou naquela realidade”. Diário da Borborema, caderno especial – 7 de novembro de 1978.

No ano de 1982, a campanha para prefeito de Campina Grande esquentava; principalmente no distrito de Galante, pois já fazia trinta anos da construção da barragem que inicialmente, fora construída para o abastecimento de água desse distrito. Mas, que, por conta da emancipação administrativa de Fagundes, que passara a município, Galante havia perdido a sua barragem. Não podendo mais contar com a barragem, pois ela pertencia a Fagundes a população pressionava os políticos por uma solução ao problema do abastecimento. Os dois principais candidatos a prefeito então eram Ronaldo Cunha Lima (tinha como trunfo sua esposa natural de Galante) e Vital do Rego, (que não tinha muita alternativa para angariar votos do distrito), conseguiu ao governo do Estado verba, para abastecer Galante antes das eleições serem realizadas. Com o abastecimento d’água direto da barragem de Fagundes, antes mesmo das eleições, e conseguiu do governo do Estado os canos para fazer o abastecimento. Até ai, nenhum problema. Fagundes e Galante estavam recebendo água da barragem. A situação começou a complicar quando o fator geográfico beneficiou Galante. Por estar localizado na parte baixa da Serra do Bodopitá, o distrito recebia o fluxo de água normalmente, enquanto Fagundes tinha problemas, pois está localizada acima do nível da barragem, acarretando chegada d’água, às torneiras sem pressão ou, mesmo em algumas ruas, a sua falta.

Essa situação começou a provocar animosidade nos fagundenses e até mesmo um sentimento de revolta, que chegou às vias de fato quando, em 1983, a CAGEPA tentou colocar canos grossos para o abastecimento de Galante e a população de Fagundes quebrou os canos.

A partir desse ocorrido iniciaram-se as ameaças entre as partes, chegando a ocorrer, apedrejamento de carros, tiroteio, e uma vitima, o galantense Bartolomeu Gomes, que foi alvejado, mas felizmente não chegou a falecer.

No final dos conflitos pelo acesso aos benefícios da atualização da barragem, Fagundes acabou vencendo. Mas, olhando por outro ângulo, Fagundes e Galante perderam. Galante, pelo fato ter perdido o abastecimento d’água da barragem; e, Fagundes porque a barragem secou, com a estiagem, e a cidade ficou, também, sem o abastecimento de água, voltando a encher novamente na década de 1990, servindo apenas para irrigar as plantações de verduras as suas margens. Fonte: DANTAS, João Andrei, Fagundes: dos levantes populares a pedra de Santo Antônio, 2004, UFCG.

 

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fagundes acessado em 03/01/2025

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